Mesosphaerum suaveolens (L.) Kuntze (bamburral) planta medicinal com potencial antioxidante e rica em polifenóis

Artículo original

 

Mesosphaerum suaveolens (L.) Kuntze (bamburral) planta medicinal com potencial antioxidante e rica em polifenóis

Mesosphaerum suaveolens (L.) Kuntze (bamburral) planta medicinal con potencial antioxidante y abundante en polifenoles

Mesosphaerum suaveolens (L.) Kuntze (pignut) a medicinal plant with antioxidant potential and abundant polyphenols

 

José Weverton Almeida Bezerra1* ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0966-9750
Felicidade Caroline Rodrigues1 ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0803-7046
Adrielle Rodrigues Costa2 ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1518-0115
Francisco Assis Bezerra da Cunha2 ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9130-0735
Viviane Bezerra da Silva3 ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0581-2609
Aline Augusti Boligon4 ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6001-1313
Marli Matiko Anraku4 ORCID: https://orcid.org/0000-0002-8717-0576

1Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal - PPGBV, Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, Recife, PE, Brasil.
2Laboratório de Microscopia - LABOMIC, Universidade Regional do Cariri - URCA, Crato, CE, Brasil.
3Laboratório de Botânica Aplicada - LBA - Universidade Regional do Cariri - URCA, Crato, CE, Brasil.
4Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, Santa Maria, RS, Brasil.

*Autor para la corespondencia. Correo electrónico: weverton.almeida@urca.com

 


RESUMO

Introdução: Mesosphaerum suaveolens (L.) Kuntze (Lamiaceae), conhecida como "bamburral", é utilizada na medicina popular, entretanto, pouco se sabe dos constituintes químicos dela, os seus efeitos tóxicos e terapêuticos.
Objetivo: Caracterizar os compostos polifenólicos dos extratos de M. suaveolens, bem como a sua atividade antioxidante e tóxica.
Metodologia: Os componentes químicos do extrato aquoso e etanólico das folhas frescas foram analisados por HPLC-DAD, quanto à ação antioxidante, os extratos em diversas concentrações (4-1024 µg/mL) foram analisados frente ao radical livre DPPH, acompanhado de um controle positivo (ácido ascórbico), para a atividade tóxica os extratos foram avaliadas contra Artemia salina.
Resultados: Os resultados apontam que o extrato aquoso e o etanólico tinham como composto majoritário o ácido caféico (13.27 e 15.09 mg/g, respectivamente). Os extratos apresentaram alta atividade antioxidante, pois tiverem um IC50 (Concentração de inibição a 50%), de 7.06, 20.32 e 6.69 μg/mL, para o extrato etanólico, aquoso e ácido ascórbico. Referente à toxicidade, nenhum deles apresentou toxicidade nos métodos analisados (p> 0,05).
Conclusão: Portanto, é demonstrado que os extratos não apresentam toxicidade, mas apresentam uma alta capacidade de eliminar radicais livres no organismo sendo uma fonte natural promissora de medicamentos.

Palavras-chave: toxicidade; Mesosphaerum suaveolens; radicais livres; plantas medicinais; flavonoides; HPLC-DAD; Lamiaceae.


RESUMEN

Introducción: Mesosphaerum suaveolens (L.) Kuntze (Lamiaceae), planta conocida como bamburral, se utiliza en la medicina popular; sin embargo, poco se sabe de sus componentes químicos, sus efectos tóxicos y sus propiedades terapéuticas.
Objetivo: Caracterizar los compuestos polifenólicos de los extractos de M. suaveolens, así como su actividad antioxidante y tóxica.
Métodos: Se analizaron los componentes químicos de los extractos acuoso y etanólico de las hojas frescas mediante HPLC-DAD, la actividad antioxidante de los extractos en diversas concentraciones (entre 4 y 1024 μg/mL) frente al radical libre DPPH acompañado de un control positivo (ácido ascórbico) y se evaluó la actividad tóxica de los extractos contra Artemia salina.
Resultados: Los resultados indican que los extractos acuoso y etanólico tienen como compuesto mayoritario el ácido cafeico (13.27 y 15.09 mg/g, respectivamente). Los extractos posee elevada actividad antioxidante con concentración de inhibición al 50 % (IC50) de 7.06 μg/mL para el extracto etanólico, 20.32 μg/mL para el acuoso y 6.69 μg/mL para el ácido ascórbico. Ninguno de los extractos presentó toxicidad con el método analizado (p> 0,05).
Conclusiones: Por lo tanto, se demuestra que los extractos no presentan toxicidad, pero presentan una gran capacidad para eliminar los radicales libres en el organismo y son una fuente natural para fabricar medicamentos.

Palabras clave: toxicidad; Mesosphaerum suaveolens; radicales libres; plantas medicinales; flavonoides; HPLC-DAD; Lamiaceae.


ABSTRACT

Introduction: The species Mesosphaerum suaveolens (L.) Kuntze (Lamiaceae), commonly known as pignut, is used in folk medicine. However, little information is available about its chemical components, toxic effects and therapeutic properties.
Objective: Characterize the polyphenolic compounds contained in M. suaveolens extracts, as well as their antioxidant and toxic activity.
Methods: The chemical components of aqueous and ethanolic fresh leaf extracts were analyzed by HPLC-DAD. Evaluation was performed of the antioxidant activity of the extracts against DPPH free radical at various concentrations (between 4 and 1 1024 μg/ml) accompanied by a positive control (ascorbic acid), as well as their toxic activity against Artemia salina.
Results: Caffeic acid is the most abundant compound in the aqueous and the ethanolic extracts (13.27 and 15.09 mg/g, respectively). The extracts display high antioxidant activity with a 50% inhibition concentration (IC50) of 7.06 μg/ml for the ethanolic extract, 20.32 μg/ml for the aqueous extract and 6.69 μg/ml for ascorbic acid. Neither extract displayed toxicity by the method used (p> 0.05).
Conclusions: It was found that the extracts do not display any toxicity, are capable of eliminating free radicals from the body and are a natural source of raw materials for drug manufacture.

Key words: toxicity, Mesosphaerum suaveolens, free radicals, medicinal plants, flavonoids, HPLC-DAD, Lamiaceae.


 

Recibido: 13/05/2018
Aprobado: 24/07/2018

 

INTRODUÇÃO

Na escala evolutiva, os vegetais adquiriram a possibilidade da produção de diversos compostos que não tem função direta no seu crescimento e desenvolvimento, na qual são denominados de compostos secundários. As funções desses compostos para o organismo vegetal são diversas, tais como a de defesa contra herbívoros e patógenos, a atração de polinizadores e dispersores, além de atuar como alelopáticos, interferindo no crescimento de outros vegetais(1). Esses metabólitos são divididos em três grupos quimicamente distintos (i) terpenos (ii), compostos nitrogenados (iii) e compostos fenólicos, sendo estes últimos divididos em flavonoides e não flavonoides. Estes também denominados de polifenólicos são os que apresentam a estrutura química descrita como C6-C3-C6.(2)

No reino vegetal, algumas famílias taxonômicas se destacam por atividades biológicas e farmacológicas oriundas do metabolismo secundário dos organismos, dentre estas família é destacada a Lamiaceae, antiga Labiatae.(3) Esta família, monofilética com base em sequências de rbcL e ndhF,(4,5) apresenta cerca de 6.800 espécies agrupadas em 252 gêneros, sendo Salvia (800 spp.) o gênero com maior número de espécies seguida de Hyptis (400 spp.).(6) Uma espécie que pertencia a este gênero,Hyptis suaveolens (L.) Poit. foi reclassificada e atualmente é Mesosphaerum suaveolens (L.) Kuntze, a qual é conhecida no nordeste Brasileiro como "bamburral" ou "alfazema-brava", e é amplamente utilizada na medicina popular como alternativa terapêutica para o tratamento de doenças respiratórias por meio da inalação e/ou ingestão de infusões e decocção de suas folhas.(7,8)

A infusão das folhas de M. suaveolens é rica em compostos fenólicos,(8) de forma que hipotetizamos que as folhas da espécie apresentem atividade antioxidante. Esta atividade está relacionada ao combate dos radicais livres no organismo. Radicais livres são moléculas que perderam átomos em seus processos metabólicos e necessitam de um novo átomo para emparelhar e se tornar estável. Entretanto, esse emparelhamento ocorre a nível molecular, sendo assim, eles irão sequestrar moléculas de lipídeos, proteínas e DNA, acarretando assim em danos estruturais e funcionais nos organismos. Contudo, os agentes antioxidantes retardam ou inibem o efeito dos radicais livres por meio da doação de moléculas que não acarretam em prejuízos. No organismo biológico, estes antioxidantes tanto podem ser de origem enzimática ou encontrado em produtos naturais.(9,10) Em pesquisas epidemiológicas alguns compostos fenólicos foram associados com a proteção contra doenças do envelhecimento, sendo justificado devido às suas ações antioxidantes.(11)

Uma planta com ação antioxidante também pode apresentar substâncias tóxicas. Sendo assim, além de avaliar as atividades farmacológicas, são necessários estudos visando a ação tóxica em organismos biológicos, a exemplo de Artemia salina Leach. (Artemiidae), um micro crustáceo amplamente utilizado em pesquisas toxicológicas de plantas medicinais.(12) A sua utilização é justificada por existir uma correlação entre a concentração letal média (CL50) de produtos naturais em A. salina e as doses letais médias (DL50) dos mesmos materiais botânicos administrados oralmente em roedores.(13)

Desta forma, por M. suaveolens ser uma planta medicinal do Nordeste do Brasil esta pesquisa objetivou avaliar o efeito antioxidante e potencial tóxico dos extratos dessa planta, bem como qualificar e quantificar a os seus compostos polifenólicos.

 

MÉTODOS

Material botânico

As folhas frescas de M. suaveolens foram coletadas em Março de 2015 na cidade de Quixelô - Ceará - BR, no horário de 09:00 hrs, com cordenadas de Latitude - 6° 15'43.0056'', longitude -39° 16'2.5926' com uma altitude de 229 m. O material vegetal foi identificado pela Dra. Karina Vieiralves Linhares, e depositado no Herbário Caririense Dárdano Andrade Lima - HCDAL da Universidade Regional do Cariri - URCA com Nº 12.104.

Preparação dos extratos

O extrato aquoso (EAMS) foi feito por meio da infusão de 320 g de folhas frescas de M. suaveolens com 4 L de água destilada a 100 ºC. Após 72 h, o material foi filtrado separando a parte sólida da líquida, esta foi refrigerada e levada ao liofilizador para retirada da água e obtenção do extrato bruto. Para o extrato etanólico (EEMS), foi imerso em etanol PA 790 g das folhas frescas e deixado em repouso durante 72 h, posteriormente foi filtrado e levado a um evaporador rotativo a vácuo (modelo Q-344B- Quimis, Brasil) e banho de água quente (modelo Q214M2- Quimis Brasil) para concentração do extrato e por último a sua liofilização. Foram calculados os rendimentos brutos dos extratos.

Química, aparelhos e procedimentos gerais

Todos os produtos químicos eram de grau analítico. O metanol, ácido acético, ácido gálico, ácido clorogênico, ácido cafeico e ácido elágico foram adquiridos da Merck (Darmstadt, Alemanha). Catequina, rutina, apigenina e quercetina foram adquiridas da Sigma Chemical Co. (St. Louis, MO, EUA). A cromatografia líquida de alta performance (HPLC-DAD) foi realizada com um sistema de HPLC Shimadzu Prominence Auto Sampler (SIL-20A) (Shimadzu, Kyoto, Japão), equipado com bombas alternadas Shimadzu LC-20AT conectadas a um desgaseificador DGU 20A5 com um CBM 20ª.

Quantificação de compostos por HPLC-DAD

Os extratos de M. suaveolens foram injetados em coluna Phenomenex C18 de fase inversa (4,6 mm x 250 mm) embalada com partículas de 5μm de diâmetro. As fases móveis A e B foram água de Milli-Q, acidificadas para pH 2,0 com 1 % de ácido acético e metanol, correspondentemente, o gradiente de solvente foi usado da seguinte forma: 0-10 min, 5 % de B; 10-25 min, 15 % B; 25-40 min, 30 %; 40-55 min 50 % B; 50-65 min 70 % B; 65-80 min, 100 % B, seguindo o método descrito por Waczuk et al.(14) com pequenas modificações. Os extratos de M. suaveolens foram analisados a uma concentração de 12 mg/mL, a taxa de fluxo foi de 0,6 mL/min, volume de injeção de 40 μl. A amostra e a fase móvel foram filtradas através de filtro de membrana de 0,45 μm (Millipore) e depois desgaseificadas por banho ultra-sônico antes da utilização. As soluções de estoque de referências de padrões foram preparadas no metanol: água (1:1, v/v) numa concentração de 0,030 a 0,500 mg/mL. As quantificações foram realizadas por integração dos picos utilizando o método padrão externas, a 254 nm para ácido gálico e ácido ellagico; 280 nm para catequina, 327 nm para ácido cafeico e ácido clorogênico; e 366 nm para quercetina, apigenina e rutina. Os picos de cromatografia foram confirmados comparando o tempo de retenção com os padrões de referência e os espectros DAD (200 a 700 nm). Todas as operações de cromatografia foram realizadas a temperatura ambiente e em triplicado.

Atividade antioxidante in vitro

A atividade antioxidante in vitro foi a da captura do radical livre DPPH (1,1-Diphenyl-2-picrylhydrazyl), realizada de acordo com Choi et al.,(15) com algumas modificações. Foi preparada uma solução a 0,3 mM de DPPH em etanol, em 100 µL dessa solução foram adicionados 50 µL do veículo de extração utilizado na amostra (água ou etanol) e 50 µL das amostras a serem testadas em diferentes concentrações (4-1024 µg/mL). O meio foi incubado durante 30 minutos à temperatura ambiente. A diminuição na absorbância foi medida por meio de placas de Elisa a 517 nm em leitor de placas (SpectraMax, USA). Para determinar a redução máxima em absorbância do DPPH foi utilizado como controle positivo o ácido ascórbico (Vitamina C). Os valores são utilizados em porcentagem de inibição da absorbância de DPPH em relação aos valores controle. O efeito percentual desta inibição foi calculado pela equação:

Toxicidade frente Artemia salina

Para determinar a toxicidade dos extratos de M. suaveolens foi utilizada a metodologia de Bezerra et al. (2017),(8) em que cistos de A. salina foram adicionados à água marinha artificial e submetidos à aeração constante durante 24 horas, após esse período houve a eclosão das larvas. O extrato etanólico foi diluído em dimetilsulfóxido (DMSO) a 1 % e o aquoso diretamente em água marinha artificial. As concentrações para determinar se os extratos eram tóxicos variaram de 5 a 1000 μg/mL. Foi utilizado como controle positivo o dicromato de potássio (K2Cr2O7) e negativo a água marinha artificial e DMSO a 1 %. A leitura foi realizada com 24 horas de exposição aos extratos, o teste foi realizado em quintuplicata.

Análise estatística

As diferenças entre grupos de HPLC foram avaliadas por um modelo de análise de variância e teste de Tukey. O nível de significância para as análises foi definido para p< 0,05. Essas análises foram realizadas usando o software livre R versão 3.1.1.(16) As análises estatísticas para a atividade antioxidante e tóxica foram realizadas usando o programa software GraphPad Prism 6, empregando Análise de Variância de uma via (One-Way - ANOVA), seguida do teste de Tukey a 95 % de confiabilidade ( p< 0,0001). O cálculo da CL50 foi obtido por regressão linear utilizando, sendo considerado como composto ativo quando CL50<1 000 μg/mL.

 

RESULTADOS

Composição polifenólica por HPLC dos extratos aquoso e etanólico de M. suaveolens

Os extratos aquoso e etanólico apresentaram um rendimento de 2,65 % e 2,64 % respectivamente. A composição de impressão digital HPLC do extrato M. suaveolens revelou a presença do ácido gálico (tempo de retenção - tR = 9,73 minutos; pico 1), catequina (tR = 14,96 min; pico 2), ácido clorogênico (tR = 20,58 min; pico 3), ácido caféico (tR = 24,07 min; pico 4), ácido elagico (tR = 31,49 min; pico 5), rutina (tR = 40,13 min; pico 6), quercetina (tR = 46,93 min; pico 7) e apigenin (tR = 65,11 min; pico 8) ( Fig. 1 e Tabela).

 

Usando análises padrão e espectral, foram identificados como ácido gálico (pico 1), catequina (pico 2), ácido clorogênico (pico 3), ácido cafeico (pico 4), ácido elágico (pico 5), rutina (pico 6) e quercetina (pico 7).

 

Os compostos, ácido clorogênico e o apigenina estiveram ausentes para o EAMS, mas não no EEMS, sendo que o primeiro apresentou uma concentração de 11.45±0.01 mg/g e o segundo 4.89±0.01 mg/g. Tanto o EAMS quanto o EEMS, tiveram como composto majoritário dos padrões analisados o ácido caféico (13.27±0.02 e 15.09±0.04 mg/g, respectivamente). Além disso, exceto a quercetina, houve diferenças estatísticas em relação à concentração dos demais compostos entre EEMS e o EAMS.

Atividade antioxidante in vitro

Os extratos de M. suaveolens inibiram o radical DPPH de forma concentração-dependente (Fig. 2). Além disso, apresentaram alta atividade antioxidante, principalmente o EEMS que teve estatisticamente o mesmo IC50 (7.06 ± 0.82 μg/mL) que o controle positivo, o ácido ascórbico (6.69 ± 0.85 μg/mL). Por mais que o EAMS tenha um IC50 maior que os outros grupos, ele apresentou uma alta atividade antioxidante, visto que em uma concentração de 20.32 ± 0.61 μg/mL, foi capaz de eliminar 50 % dos radicais livres de DPPH.

 

Atividade tóxica frente a Artemia salina

Na avaliação tóxica frente ao microcrustáceo, é observado que os extratos de M. suaveolens não apresentam toxicidade em nenhuma das concentrações apresentadas (Fig. 3). Já para o controle positivo houve um LC50 de 53,05 µg/mL.

 

DISCUSSÃO

M. suaveolens é conhecida por agricultores por conta da rejeição do gado durante a alimentação. Contudo, as folhas dessa espécie são utilizadas no preparo de chás para o tratamento de enfermidades principalmente doenças respiratórias, de populações carentes que não têm acesso a medicamentos farmacêuticos. Com isso, tornaram-se essenciais avaliações farmacêuticas, toxicológicas e fitoquímicas. De modo geral, o estudo apontou que os extratos apresentam uma alta capacidade antioxidante, e ausência de toxicidade frente ao modelo A. salina, além disso é constatado a presença de diversos compostos fenólicos em sua constituição.

Nesta pesquisa, M. suaveolens apresentou em sua composição química polifenólica o ácido cafeíco como componente majoritário para os dois extratos, esse ácido é relatado como sendo um fenilpropanoide simples com diversas funções nos vegetais.(1) Com base nisso, organismos de M. suaveolens podem ser fontes naturais de ácido cafeíco para as indústrias farmacêuticas, um composto que apresenta ação neuroprotetora.(17) O ácido clorogênico foi o segundo composto em maior concentração do extrato EEMS, enquanto que o mesmo não se encontrava no EAMS, com isso fica evidente que para a extração desse composto presente nas folhas, a água não é um solvente indicado devido à sua polaridade, além disso, este composto é relato como sendo um ótimo antioxidante quando presente em uma dieta.(18)

No caso do EAMS, seu segundo composto majoritário foi a quercetina, esta substância é o principal flavonóide presente na dieta humana e o seu consumo diário varia entre 50 e 500 mg, sendo o mais abundante presente na dieta humana,(19) representando cerca de 95 % do total dos flavonoides ingeridos.(20) Esse flavonoide têm alguns efeitos na prevenção e no tratamento de doenças cardiovasculares, câncer e insuficiência renal e hepática.(21)

Quanto à atividade antioxidante, o parâmetro IC50 é um indicador que representa a concentração de que um produto natural é capaz de inibir 50 % dos radicais livres, esse parâmetro tem uma grande importância na comparação de dados entre pesquisas, independentemente de suas concentrações utilizadas nos ensaios.(22,23) Quanto menor o valor do IC 50 maior a atividade antioxidante do produto, com isso, quanto menor esse valor, menores são as doses necessárias para combater radicais livres no organismo, podendo ser baixas sem causar danos tóxicos aos indivíduos. Razo-Hernández et al.(24) relataram em seu estudo que, de modo geral os produtos naturais apresentam valores de IC50 compreendidos em uma faixa de 1-500 µg/mL, estando de acordo com os nossos valores.

As folhas de M. suaveolens apresentam uma alta atividade antioxidante, principalmente o extrato etanólico, que teve resultado similar ao controle positivo. Outras plantas da Família Lamiaceae também utilizadas em larga escala na medicina popular como antioxidantes naturais, não se apresentaram tão eficientes quanto à M. suaveolens, como é o caso de Rhaphiodon echinus (Nees & Mart.) Schauer (menta-rasteira), com IC50 de 111,9 μg/mL,(25) Melissa officinalis L. (erva-cidreira), com IC50 de 28.2 μg/mL,(26) e Ocimum gratissimum L. (alfavaca-cravo) com IC50 de 86 μg/mL.(27) O alto efeito antioxidante dos nossos extratos pode está relacionado aos efeitos sinérgicos dos compostos fenólicos, pois a ação sinérgica é mais efetiva do que um composto isolado. E como demonstrado, as folhas de M. suaveolens apresentam uma variedades desses compostos. Nossos resultados antioxidantes corroboram com os encontrados por Gavani & Paarakh,(28) em que no estudo o extrato metanólico das folhas de M. suaveolens tiveram atividade antioxidante com IC50 de 14,04 μg/mL.

Com base no exposto, os compostos naturais presentes na alimentação são de suma importância, entretanto esses compostos podem atuar de modo sinérgico com outros causando toxicidade ao invés de um benefício ao organismo, como é o caso do trabalho de Pinho et al.(29) Em que nesse trabalho ao analisar a fitoquímica e a toxicidade do extrato de Duguetia furfuracea frente a D. melanogaster constatou que ele apresenta toxicidade frente ao modelo e que tem como composto majoritário, ácido cafeíco (33.15 mg/g). Entretanto, em nosso estudo, por mais que os dois extratos tenham o ácido cafeíco como composto majoritário, eles não apresentaram toxicidade frente A. salina. Isso pode ser atribuídos à concentração do ácido cafeíco ser maior em D. furfuracea, bem como uma ação sinérgica com os demais compostos da planta, principalmente terpenos.

Em avalições toxicológicas rápidas, o ensaio de toxicidade aguda com A. salina tem se mostrado eficiente, pois alguns extratos botânicos e óleos essenciais, têm se exibido tóxicos frente aos nauplios, como é caso do extrato de Tarenaya spinosa (Jacq.) Raf. (Cleomaceae), outra planta medicinal, que teve alta toxicidade frente às larvas com um CL 50 de 150 µg/mL, não sendo então recomendadas altas ingestões de produtos oriundos dessa planta.(30) Em nosso estudo, no teste de toxicidade aguda frente A. salina os extratos não apresentaram toxicidade.

Sendo assim, devido à ausência de toxicidade dos extratos de M. suaveolens frente aos organismos modelo, ampla distribuição dos organismos e alta atividade antioxidante, a espécie poderá ser uma nova fonte promissora de substâncias naturais antioxidantes, substituindo os sintéticos, devido aos efeitos cancerígenos. Desse modo, ensaios visando o fracionamento devem ser realizados para a identificação das substâncias responsáveis, além disso estudos visando a citotoxicidade e a genotoxicidade devem ser realizados sejam necessários para assegurar o seu uso pelas populações.

 

CONCLUSÃO

Devido ao seu potencial na captura do radical livre DPPH e a sua baixa toxicidade frente a A. salina, T. spinosa demonstrou ser uma espécie promissora no desenvolvimento de substancias naturais antioxidantes que podem auxliar em tratamentos como o câncer.

 

Agradecimentos

Agradecemos à Universidade Regional do Cariri - URCA pela concessão de bolsas e à Universidade Federal de Santa Maria - UFSM pela realização dos ensaios fitoquímicos.

 

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Contribuiçao dos autores

José Weverton Almeida Bezerra, Adrielle Rodrigues Costa: Escrita do artigo.

Felicidade Caroline Rodrigues: Coleta de material botânico e extração do óleo essencial.

Aline Augusti Boligon e Marli Matiko Anraku: Análises químicas.

Viviane Bezerra da Silva: Ensaios biológicos e antioxidante.

Francisco Assis Bezerra da Cunha: Orientação do trabalho.

 

Conflito de interesses

Los autores expresan que no tienen conflito de interesses.